sábado, 2 de fevereiro de 2013

Mensagem na garrafa





Pedi para Janeiro ser bonzinho, ele foi. Aguentou firme e não me levou ninguém neste ano, mas seu irmão Fevereiro, todo apressado, não escutou meu pedido... Parece que não adianta pedir, a vida mostra cada vez mais que a gente pede, mas é ela quem manda. A vida, essa contadora de histórias, pega a gente de surpresa, e dá um choque de realidade. Faz a gente ver a fragilidade que é ser de carne e osso, mostra que tudo é mistério e que é importante estar presente, estar NO presente.
Só o aqui e o agora são reais.
Hoje, essa contadora de histórias resolveu que era dia de despedida e fechou um livro em sua vasta biblioteca. Colocou um ponto final muito brusco numa história que ainda renderia muito enredo. Uma história que tinha tudo para ser ainda mais linda e longa. Isso por si já é o bastante para entristecer só de ouvir falar, e me entristece. E a tristeza não é só (como se fosse pouco) pelos sonhos não realizados, os planos interrompidos, a paisagem que resta incompleta, as palavras não ditas e todo um vir a ser que nunca será... É a tristeza do adeus de uma pessoa querida. Foi o William, o gigante mais gentil que já conheci, hoje ele deixou de habitar o nosso mundo e passou a povoar as nossas lembranças...
Nossas histórias passaram pelas mesmas linhas algumas vezes, não muitas, mas o suficiente para que se criasse um afeto. Aliás, foram as linhas de fato e a palavra escrita que fizeram com que a gente escrevesse juntos as tais linhas em comum... E estivesse ligados por outras tantas linhas paralelas... Há quem pense que "amizade virtual" é superficial, vazia. Que o computador é só uma fonte de entretenimento e informação. Esse conceito carece de atualização. Nunca lhes sucedeu que são pessoas e não máquinas que se comunicam, que trocam palavras, experiências, confidências, carinhos, através dessa "tela fria"?!
Chamei o monitor de meu antigo PC de tela fria durante muito tempo, aquele em que o usava apenas como ferramenta para meus trabalhos de faculdade. Quando a internet era só mais uma fonte de pesquisa. Depois, nem tela e nem peneira, ela virou rede em minha vida. Rede que me pescou e arremessou pra dentro de um mar de surpresas, com uma fauna adorável e infinitamente mais interessante e especial do que jamais poderia supor... Numa dessas viagens, quando já era maruja mais experiente, foi que numa ilha sem mapa, nem coordenadas, encontrei um grande tesouro. Um delicioso e extraordinário grupo de amigos, e o grandão de coração maior ainda, foi uma dessas preciosidades.
Eram noites e madrugadas de muitas risadas e conversas. Os caracteres tornaram-se pouco diante do carinho que se firmava entre todo esse povo bom, se fazia necessário o olho no olho. E ele, pessoa cheia de disposição, olhar sempre atento, sorriso franco, enormes braços acolhedores, foi dos primeiros a abraçar essa ideia e pô-la em ação. E assim, o rosto de nosso gigante favorito passou de avatar de perfil a habitué de animadas mesas de conversa e diversão. Não bastava sua presença, ainda nos trouxe de presente sua grande (em tamanho e em doçura e beleza) amada, Mia. Veja só, o que já é bom por si e ainda vem com bônus! Olho para tudo isso e como não me sentir afortunada?! Só posso dizer que foi um privilégio e digo isso com toda gratidão!
Sinto por ser tão relapsa e me deixar levar pela correria do dia a dia, sem dar a devida atenção a AQUELES e AQUILO que realmente importa. Sinto por não ter sido mais presente. Sempre estive deste lado da telinha observando, feliz em saber que estava tudo bem. Comemorando daqui as conquistas, as alegrias. Contava que haveriam outros momentos, outras mesas e outras risadas. A gente deixa para depois e esquece que a vida não dá garantias de nada... E quando ela bate o martelo a gente fica atônito, se sente roubado, percebe o tempo que desperdiçou, o carinho que não deu, mas já é tarde. Aquela luz já se apagou. Diante de tantas perdas, fica na boca o gosto amargo e a lição, que dessa vez faço questão de levar comigo e fazer a tarefa para casa direitinho! Vou praticar o exercício da presença, na minha vida e na de meus presentes. Não me absterei da responsabilidade diante daqueles que me cativaram mais do que eu os cativei... Sempre muito recebi, é justo retribuir.
Obrigada, William, amigo querido, que em toda sua generosidade, partiu, mas deixou comigo o alerta. Obrigada por ser um farol nesse mar. Vai em paz, navega tranquilo, que mereces. Faz tua viagem, um dia desses a gente se encontra em algum porto. Vai sem medo, que o mar está sereno e hoje é dia da Mãe d'Água. Segura nas mãos dela e deixa o vento bater nas velas de teu barco e te levar. Vá em paz, nós aqui te lembraremos. E teu tesouro estará bem cuidado...