sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Bendita seja a inesperada delícia de cada dia!



A vida é mesmo uma aventura maravilhosa e tem imprevisíveis saborosíssimos!
Pode até parecer bobagem pra muita gente, mas, estou tocada e vendo o mundo por outro ângulo por conta de um fato ocorrido hoje, um fato simples, que de fato, fez-me perceber que tinha razão quem disse que "recebe mais quem doa do que quem supostamente recebe"... E aquela história de que "o mendigo,na verdade não é quem recebe o donativo, mas, o próprio doador"...
Hoje pela manhã, fui entregar à uma moradora de rua dois pares de chinelos e umas bobagenzinhas femininas... Sim, pq ela é mulher, e mesmo sendo moradora de rua, isso não a impede de ter desejo em enfeitar-se, caso tenha, já tem como...
É aquela do "causo" da "sapata e a sapatinha", que contei aqui tempos atrás. Eu e Lili, minha amiga querida e colega de sala num curso, notamos que estava a senhora com um par de chinelos velho, furado e prestes a arrebentar as tiras. Confesso que quem me fez notar foi Lili, sim, pq eu, como a maior parte dos transeuntes, faz questão de ignorar essas pessoas como parte da paisagem local. Não vou ser hipócrita em dizer o contrário só pra fazer média não.
Acho sim uma tristeza que muitas pessoas vivam nessa condição, mas, não faço nada a respeito, como a maioria da população. Não os maltrato, mas também não me aproximo e confesso, se puder me afasto, pq o cheiro não me favorece a aproximação. É questão de nariz melindroso, apurado demais para bem e para mal. Já disse aqui que consigo lidar bem com praticamente tudo, mas não suporto gente que fede. Em último caso, na falta de opção, aguento firme, mas o eu interior fica em cólicas e desepero de sair do ambiente. Nada pessoal, mas é algo que realmente me incomoda e que não consegui superar... (Nem conto a felicidade aromática que é tomar tem antes das sete da manhã todos os dias... Melhor nem comentar!)
Bem, o assunto não é esse.
A questão é que por conta da observação de minha amiga, me compadeci. Ela um dia desses foi lá, perguntar à senhora que número calçava. Logo tratou de se informar com as colegas de sala se alguém calçava o mesmo número e podia doar algo para calçar sua protegida. E não é que era justo o meu número?! Fiquei então de providenciar. Coisa de três dias atrás, se não me engano.
Ontem saímos da aula e lá estava a senhora, dessa vez descalça. (Não perguntei o nome dela, mas vou ter de perguntar, pq quando notei, isso passou a me incomodar...) Pronto! Aí me recordei do compromisso que tinha assumido com minha amiga, cheguei em casa e já sabia até o que pegar. Encontrei dois pares de chinelos rasteirinhos que se usei duas vezes cada foi muito, estavam bonitinhos e em bom estado. Já separei pra não esquecer...
Mas, o foco da conversa era sobre hoje. Olha eu me desviando de novo! :P
Então, hoje cedinho, antes da aula, fui até lá entregar os donativos, queria ter ido com a Lili, mas ela teve de faltar à aula. Eis que a encontro descalça ainda, e estava friozinho, choveu bastante ontem e hoje... Me aproximo, paro, olho para ela, sorrio, digo bom dia. Ela se abre em um sorriso e espanto ao mesmo tempo, talvez pelo fato de ter interpelada e cumprimentada por alguém que não de seu grupo. Deva mesmo ser acontecimento raro... Um ar de felicidade surgiu em seu rosto, um espanto contente. Sorri novamente e lhe estendi a mão com uma sacola. Ela me olhou perplexa.
Foi então que disse a ela: São para você, espero que goste. A vimos descalça ontem, agora não precisa mais ficar... Aí é que veio a surpresa de me fazer cair a cara no chão.
Ah! Esqueci de comentar, ela estava sóbria, eu só a tinha visto alterada até então.
Momento surpresa: Ela me olha, sorri e diz: -- "Ah! Muito obrigada, linda! Eu estou descalça pq emprestei ao menino (não sei quem) meus chinelos para ele ir trabalhar ontem, e ele não voltou."
PQP! Minha cara caiu e eu não consegui apanhar até agora! Uma pessoa que tem nada consegue tirar os chinelos puídos dos pés, ficar descalça para ajudar outra pessoa, que deve ser até pouco conhecido dela. Se dispôs a abrir mão de algo seu, algo valioso que não tinha para repor, e confiar em alguém...
Estou pasma até agora, e certa de que fiquei com cara de idiota ao ouvir isso... Mas, bobagem. Quero mais é ter outras surpresas feito essa e ficar com cara de idiota por falta de outra cara pra fazer num momento desses... Pq não tem máscara capaz de aparecer numa hora dessas!
Depois disso ela foi super doce, fez muitos agradecimentos, muitas bênçãos e eu saí de lá em estado de graça, feliz da vida e assim permaneci o dia todo...
Quem ganhou muito fui eu, nessa lição, mais as outras fichas que ainda estão caindo e as que vão cair... E a sensação boa que ainda está quentinha aqui no peito. Como pouco faz alguém feliz e multiplica a felicidade de quem fez!
Obrigada pelas lições, Flor do Asfalto! Jamais me ocorreria que uma estação de metrô fosse também lar e escola. Jamais me ocorreria tamanha surpresa, tanta doçura em meio a tanto abandono... Obrigada por me ajudar a olhar. Obrigada!

5 comentários:

Eu disse...

Ah, Mony, a gente aprende das pessoas mais inesperadas, né? Que bom que vc compartilhou isso aqui. Assim pude aprender tb. :)

Beijos mil e continue bem nesse caminho dos sentidos despertos...

Karin

Unknown disse...

Linda história! Fiquei emocionada imaginando tudo. :)

De Marchi ॐ disse...

Quando você me contou essa história, fiquei ligadão. Interessante, né? A avidez consome quem tem mais... dá pra questionar o que é liberdade nessa vida.

웃 Mony 웃 disse...

Beijoconas pras duas queridas e outras pro queridíssimo aí de cima...

Sei lá se isso ajuda de alguma forma, Karin, mas já saquei que uma das coisas que compõe minha alma é ser contadora de histórias, então, vou contando e quem tirar alguma coisa disso, atnto melhor...


Dá pra questionar tudo nessa vida, Denis... O bom é que desse questionamento todo dsá pra construir uma vida nova, um novo jeito de viver, tomara que melhor...

Afe! Tô preocupada que a Flor do Asfauto anda sumida, não a vejo desde segunda-feira... ela não está por lá.
Penso em perguntar ao companheiro dela sobre o que aconteceu, mas todos os dias eu o encontro dormindo e tenho receio de incomodá-lo...
Confesso que temo pela resposta também, mas, amanhã vou tentar saber mesmo assim...

De Marchi ॐ disse...

E aí, descobriu o que houve?