segunda-feira, 9 de abril de 2012

Um inverso feminino

Acho que não dou certo pra fake mesmo... Essa coisa de arsenal feminino, definitivamente não é o meu estilo... Certos setores do universo feminino me parecem outras pátrias, idioma ininteligível, cultura alienígena. Falando assim, pode soar a exagero, fatalismo, síndrome de inadequação. Mas não, não é nada disso, é tão somente constatação. E nem me assusto, nem me importo mais. É uma verdade que aceito, assim, feliz da vida. É uma verdade que é minha, meu número, assim como minha digital, intransferível.
É nas pequenas coisas que percebo... Tirei as unhas de porcelana. Aguentei três semanas, olhando, estranhando, me estranhando. Eram lindas, perfeitas. Não havia nada de errado com elas. Talvez resida aí o motivo... Eu não assimilo o perfeito demais, a total simetria me invade o paladar da alma com sabor de fármaco amargo e vencido. Os olhos concluem e os outros sentidos, sinfonicamente concordam, em uníssono. Soa o alarme interno, mil luzes imaginárias piscam e indicam em letras garrafais: ARTIFICIAL. Essa palavra me é sinônima de incômodo. Sempre foi.
Eu, demasiadamente humana, perfeita em minhas imperfeições, exata em minhas indefinições, exibindo detalhes tão simétricos, tão perfeitos que inumanos... Minhas mãos, de infantis passaram a sedutoras. Mas, de uma sedução antinatural. Em poucos instantes, a antes chamada “rapina calma” mutou-se em contundência sensual desfigurada.
Quase um tiro pela culatra. Reduziu-se a sensibilidade e a destreza dos movimentos que antes eram fluidos e naturais, belos, pela singela delicadeza original. Instaurou-se uma dança grotesca, mal coordenada, desgovernada e patética. A beleza fabricada retinia destoante, algo se evidenciava claramente fora de lugar. Olhava tudo aquilo e a imagem que me ocorria era a de pata fantasiada em fêmea de pavão. Fantasia de bloco de carnaval decadente levando estandarte da liga especial.
O “nervosismo estético” era latejante e clamou por suicídio. Algumas mortes são libertadoras. Talvez fundamentais. Nesse caso, apenas uma questão de materialização da lógica, o atestado de óbito do que jamais viveu. Experimentei um momento de glória, quase um estado de graça numa situação banal. Senti-me a águia preparando-se para seu renascimento, arrancando as próprias garras. Aquilo que julgara me dar poder, era retirado exatamente para o resgate do poder. O sorriso floresceu em simultâneo à arrancada da última unha. Minha identidade estava firmada. Afirmei o inegável: minha paleta de cores é a natural. Meus tons orgânicos, os que minha alma pinta, realça, coloca em degrade, é o que é. Nada mais charmoso e encantador do que a naturalidade.

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