
Fiquei uma semana com uma frase ecoando em minha cabeça... Tive overdose de China, Jogos Olímpicos e correlatos, mesmo sem ter acompanhado. Ia deixar passar batido, mas, uma certa indignação persistiu me fisgando. Aquela tal frase que Maitê Proença disse no programa Saia Justa* da semana passada.
Disse ela sobre "a mediocridade da delegação olímpica brasileira".
O "quase lá".
PQP! É de ficar indignada com uma frase dessas. É claro que todos nós gostaríamos e muito que o Brasil figurasse como um dos país mais premiados. Mas, para o incentivo que os atletas recebem, foram muito bem!
Não, não é como o dito popular "para quem é, bacalhau basta". Não. A questão é que, a maior parte dos atletas treina às suas expensas e com a ajuda de quem estiver disposto a colaborar. Às vezes os recursos são mínimos ou nulos, mas eles treinam pq é sua vocação, seu sacerdócio, sua paixão e por conta disso dão "sangue, suor, lágrimas", vão aos limites do humano e além. E depois de tudo isso são chamados medíocres?!
Patrocínio? Existe efetivamente mesmo no futebol. (E isso pq ele rende muito lucro, não por amor à camisa.) Em outros esportes, pouquíssimo.
Foi questionada a verba que a COBE disponibilizou para a ida aos jogos. Que a quantia foi alta. (Não me recordo agora quantos milhões...) Sim, mas essa verba foi para que, passagens apenas? Para quem, de fato? Atletas e seus treinadores ou acrescenta-se aí quantos turistas VIPs? E a COBE administra a verba como? Presta contas? Que critérios são utilizados nas decisões de como e a que serão destinadas tais verbas? Alguém sabe informar?!
Aliás, de que adianta que a verba vá só para transporte e esse tipo de despesas e não para dar melhores condições de preparo aos nossos atletas para as competições?! Então é só levar lá e já está bom?!
Nosso país é conhecido como país do futebol. Um desperdício! Pq só do futebol? Temos tantas outras habilidades... Há tantos talentos a serem valorizados!E tantos outros a serem descobertos.
Em muitos países as escolas são vitrines dessas descobertas, são aliás seus berços. Infelizmente presenciamos de bocas bem caladas e olhos bem fechados, fazendo a mais deslavada vista grossa à falência do ensino geral e da educação física.
Educação de qualidade prima pelo desenvolvimento intelectual, físico e emocional, no mínimo. Esporte é saúde e auto-estima! Ensina disciplima, auto-centramento, cooperação, superação.
As aulas de educação física nas escolas públicas são meramente uma formalidade a ser cumprida por obrigatoriedade da grade curricular. Dá-se uma bola e os meninos jogam futebol, as meninas em geral vôlei e está feito. Não há estudo das regras, do fundamentos dos esportes, nenhum preparo físico. Não há a apresentação de outras modalidades. E qual a razão?!
Simples, não há material, em alguns casos não há espaço adequado, não há mais disposição por parte dos profissionais de ensino massacrados e desmotivados, não há verbas ou incentivo do governo. Fui professora de educação infantil e vi muito disso acontecer. Inclusive, até a quarta série o profissional especializado para dar aulas de educação física sequer é contratado, fica tudo a cargo da professora da turma. Como querer um país mais competitivo se as bases não propiciam?
Poderíamos seguramente ser chamados de país do esporte, caso tivéssemos um melhor sistema. O brasileiro é um povo muito esforçado, muito criativo e muito versátil. Se com pouco já conseguiu nos agraciar com esses heróis, com mais investimentos teríamos safras invejáveis de excelentes atletas.
Fica desleal a comparação, nos EUA, por exemplo, toda escola tem uma quadra e é uma honra que inclusive dá direito a muitos benefícios aos estudantes que fazem parte de times de basquete e outros esportes coletivos, bem como dos individuais. Participar de uma equipe esportiva pode até render bolsa no ensino superior. Igualzinho aqui, não é mesmo?!
Na China, (como em outros regimes totalitários)os talentos são descobertos e explorados ainda na mais tenra idade. Talvez nem se tenha tempo para que os atletas descubram outros talentos. As equipes de ginástica olímpica, por exemplo, tanto feminina quanto masculina, todas perfeitíssimas, têm seus atletas retirados do seio da família aos 6 anos de idade e sua vida passa a ser exclusivamente treinar. Se é bom para eles, não sei. Tem sim um caráter obrigatório. Não me parece nada voluntário ou prazeroso, mas, cumpre seu objetivo.
Pensando por esse lado, os chineses que ganharam mereceram, os que não ganharam, nem por isso deixaram de merecer. Sob muitos aspectos, nascer chinês já é em si um fardo muito grande, se for mulher, dobrado, se for atleta, triplicado e por aí vai a contabilidade. Nessa tabuada, feliz daquele que consegue ter satisfação em ser quem é.
Agora, "nós", quase lá é o cacete!
Só ter chegado aos jogos já foi a glória. Esse tipo de absurdo só me faz lembrar do judoca que chorou e pediu desculpas por não ter ganho medalha. Ele não precisava pedir desculpas, nós é que precisamos, por deixarmos solenemente de exigir os direitos que temos e que eles sejam de fato estendidos a todos. Isso é direito nosso e obrigação do Estado!
Enquanto tratarmos nossos "representantes" como entes supremos que nos prestam favor, e não os encaramos como funcionários que desempenham função eletiva em nosso nome e a nosso serviço, pelo progresso social, essa palhaçada não tem previsão pra acabar...
É ano de eleição e mais uma vez, infelizmente, já sei o que esperar...
*Sim, eu assisto ao Saia Justa e até costumo gostar. Não é com tudo o que dizem que concordo, mas, isso não é problema, aliás, ajuda a pensar, rever conceitos, ter novas perspectivas, reformular ou reafirmar certos modos de pensar e de agir, amplia horizontes.
Há quem ache um programa fútil, raso ou seja lá mais o que quiserem. O fato que é o único com esse formato. Quem quiser que faça melhor. Seria bom ver mais diferentes mulheres debatendo sobre os mais variados assuntos.
Gosto das colocações que fazem, do trabalho que têm em fazer pesquisas, acho interessantes os temas que trazem, gosto dos novos olhares, mesmo os muito diferentes do meu.
Sinto falta da Soninha Francine lá. Gosto das colocações de Marcia Tiburi, da paixão com que ela defende o feminino e seu feminismo. E me acabo com a irreverência de Betty Lago.