sábado, 21 de abril de 2012

Sonambulia




Frases que eu nunca quis, que eu nunca sonhei dizer, agora brotam assim, feito “maria sem vergonha”, em meus pensamentos, bem no meio da madrugada... Frases como: agora, separados, estamos ainda mais juntos...
Como assim, você, perdida no meio da madrugada? Ela sempre foi seu cobertor e sua canção de ninar!

Agora é assim, acordo quase todas as noites, no meio do sono, alta madrugada, olhar já perdido, em busca de um ponto para se fixar. Não encontro nada, só silêncio e saudade. A estrela da madrugada agora brilha em outro espaço...

Ao fundo, o céu nesse momento bate seus tambores secos, ecoam eles estrondosos, acompanhados por flashes velozes, o céu chora. Nostalgicamente, também chovem meus olhos. A terra treme, ou será meu coração agitado?

A vida é boa em ironia. Embora tenha sido eu uma boa aluna, dificilmente serei capaz de superá-la. Eis-me aqui, de braços dados à tua amante, só. Sonambulando pela casa...

Pergunto às paredes se elas têm notícia tua. Aguço os ouvidos na tentativa de ouvir algum dos nossos risos caminhando pela sala. Talvez ainda reste algum passo teu pela cozinha. Quem sabe se com bastante atenção não o ouça retinir rumo à geladeira a procurar por refresco?! Quem dera resgatar um “eu te amo” espremido entre as dobras das almofadas do sofá. Também não encontrei nenhum “até mais tarde, amor” no caminho do portão. Não, nada, nenhum som, só o eco das minhas recordações.

Talvez meu nariz de perfumista capte algo. Talvez ele me salve. Farejei e não houve sequer uma lufada do cheiro bom de mato que vinha do teu banho. Nenhuma nota do teu perfume favorito. O guarda roupas, apesar de ainda habitado, engoliu todo o aroma ambarado das tuas camisas. Novamente, nada. Ah! Só a insônia insípida, inodora e mais incolor que a água... Não restou para contar história, na bancada da varanda, nem o odor acre da fumaça do teu cigarro. Aquele com o qual tanto impliquei e do qual tenho hoje saudade...

Dos travesseiros, fugiram todos os sonolentos beijos matinais. Nos lençóis, não se refugiou nenhum abraço, não sobrou nenhum afago nos cabelos escondido na fronha. Todos os nossos vestígios, toda nossa história, tudo, agora é só memória. Memória e saudade que me acorda para desejar bom dia, antes de o dia nascer.

A vida é mesmo mestra em ironia! Agora a madrugada tem a mim, mas, não tenho mais a nós... Seria perfeito, o clima friozinho, o barulhinho de chuva lá de fora, o cobertor e a pele um do outro pra nos aquecer. Mas não, a vida e sua ironia. Esvazia nossa cama, pra me fazer dormir com quem nos apresentou. É, agora, quem fica no lugar do teu travesseiro é meu computador. Seria cômico, se não fosse solitário e irônico...

Um comentário:

Karin Simon disse...

Dolorosamente lindo seu texto, Mony. E se não fosse um retrato muito fiel de sentimentos reais eu até poderia apreciar de outra forma. Aprecio na forma do reconhecimento, da descrição muito bela de algo que já senti também, de outra forma, com outros elementos. Mas me permita um palpite, como diz a janelinha aqui. Libere o que for possível junto com as tuas palavras. Solta para o Universo essa dor poética, não se apaixone por ela. Aproveita o espaço que sobrar na tua noite para outros sons, outras cores, outros cheiros, primeiramente, os teus próprios… E principalmente, ao jogar isso tudo para o Universo, faça-o sem culpa e sem remorso. Deixa a vida fluir e vai com o fluxo, não te esconde dele.
Um beijo enorme, minha flor.