sábado, 24 de janeiro de 2009

Símbolos...




Engraçado, estive pensando numa coisa, certas vezes a gente faz coisas que nem se dá conta da razão...
Ontem, na missa em homenagem a papai caiu uma ficha a respeito disso, e foi bem no meio da missa, eu já nem me constranjo mais com meus pensamentos... É, notei que estava ali na igreja depois de exato um ano, só pq as orações, a homengem, a celebração, era pra ele... Só por esse motivo fez sentido ir até lá...
A boca ia no automático repetia aquela ladainha, aquela monte de textos em série, os ritos desse ritual antigo que é a missa... E a boca ia tão automática que eu que jurava não me lembrar de nada daquilo, daquilo que nem tem nenhuma importância pra mim, não faltava uma palavra, saía tudo na hora certa...
O mais engraçado é que havia a sensação de haver duas dentro de mim, a que reproduzia automaticamente as frases e outra eu, consciente, pensando outras coisas, celebrando a existência de meu pai, tudo o que ele foi, na representação do que ele foi pra mim... Sim, pq o que ele foi, só ele mesmo soube, ou não, a totalidade dele eu desconheço, mas conheço bem o que ele mostrou, o que pesquei, o que vivemos... Ele, sob o meu ponto de vista, meus filtros, meus ideais e o que minha lucidez me deixou perceber...
Esse eu consciente via a morbidez, a necrofilia da cerimônia, que além de celebrar falecidos, celebra o falecido homenageado mor, o sacrificado mor, o Cristo. É a festa funesta, triste, da ladainha respeitosa, do barulho cadenciado em tom solene e fúnebre, o culto ao sacrifício e a dor... E a eu consciente estava cheia de alegria, agradecendo pela companhia de viagem, companhia deliciosa que foi meu pai. Pra muitos vai parecer loucura, mas que se dane, foi a minha experiência, estar ali feliz, com as minhas recordações, com a oportunidade de ter conhecido alguém ao mesmo tempo cruamente humano e muito especial... Quase que tive de forçar para conter o sorriso descabido para a situação exterior... Mas meu interior sorria e só fazia desejar que a nova parte da jornada esteja tão divertida quanto foi a nossa juntos... Que hajam mãos amigas a segurar as dele nesse novo caminho, que a água seja fresca e reconfortante, que as gargalhadas sejam fartas como pão à alma...
Estive lá e celebrei, e dei de presente ao meu eterno amor a alegria, traço meu que ele mais admirava...
Sinto-me feliz, sinto tê-lo honrado.
Sinto que de todos os simbolismos, o da cerimônia tradicional já não me serve, está gasto, deixo-o para a parte robô, a eu que vive come de outro pão, bebe de outra fonte e só conhece um símbolo para celebração, a alegria...
Engraçado, que até as palavras da bíblia que por lá foram ditas se encaixavam plenamente nessa concepção. Talvez até passe a gostar mais dela, quem sabe faça umas visitas, sinto que hoje as vi realmente, como sinto que hoje me abri a um sagrado mais íntimo e mais significativo. Sinto que ainda há mais a sentir, de outras maneiras, que símbolos não podem ser mordaças nem camisas de força, tanto menos segunda pele, uniforme ou bandeira... Nada é exato, nada é definitivo...
Há muito o que se ver, quero mais é ajuda para olhar.

2 comentários:

De Marchi ॐ disse...

"festa funesta"
é bem por aí, o lado negrófilo infelizmente se sobrepõe. O Cristo ali na cruz e seu martírio consciente, sua decisão de morrer pelo ideal, seu sacrifício em prol de outros... deu lugar ao olha como sofre!". Não precisa ser assim, principalmente quando é uma homenagem a um cara cheio de vitalidade que alegrou a emocionou muita gente e, não bastasse, teve uma vida boa, que deu frutos, que viu o neto, etc.

SeuJão merecia mesmo era um churrasco com dominó, do jeitão que ele gostava. :)

웃 Mony 웃 disse...

É, necrofilia não tem mesmo a minha cara e nem a dele...
Que aliás, não gostava de nenhum ambiente que lembrasse dor ou tristeza...
Churrasco com dominó sim seria uma boa homenagem... Mas não tem nada não, a gente vive nesse mundo, mas não se limita a ele. Eu deixo meu mundo agir na minha vida, pq carrego quem eu sou para todo lugar onde vou e quem não entender, que não entenda...
Eu não entendo tanta coisa e nem por isso atiro pedras...
É cada um com seu cada qual e segue o baile...